08 março 2017

Review - Logan


"Num futuro próximo, um Logan cansado cuida de um Professor X debilitado, escondido na fronteira mexicana. Mas as tentativas de Logan de esconder-se do mundo e de seu legado acabam quando um jovem mutante chega, perseguida pelas forças sombrias"


Há dezessete anos, o talentoso ator australiano Hugh Jackman dava início à interpretação do personagem que marcaria sua carreira para sempre. O carcaju, maltrapilho, solitário e marrento, que ganhava a vida lutando em gaiolas passara a ser interpretado pela primeira vez em live action em 2000, e assim como ocorre com frequência na sétima arte, o ator escolhido para vivê-lo caiu como uma luva e convenceu a todos de que não havia nome melhor para a missão de interpretar uma personagem tão carismática e querida pelos fãs de quadrinhos.

Após 8 filmes nos quais, se revezou entre protagonista, coadjuvante e pontas, Hugh Jackman se despede do consagrado papel em grande estilo. Dirigido mais uma vez por James Mangold, de Wolverine: Imortal, Logan tem imenso respeito pela mitologia estabelecida nos filmes anteriores e adapta com muito êxito o material fonte, tanto HQs quanto animações.


Animações sim, já que a personagem chave do filme, responsável por mover a trama, é originalmente de um desenho animado de grande sucesso que fazia uma releitura dos X-Men ainda jovens e em ambiente escolar. Dos episódios de X-Men: Evolution, surgiu a clone de Wolverine, Laura Kinney, também conhecida como X-23, por sinal com uma origem muito bem adaptada.

X-23, interpretada por Dafne Keen, rouba diversas cenas e ganha o público na sua primeira sequência de ação, simplesmente alucinante! A jovem atriz entrega de forma muito competente também as cenas de drama, emocionando a plateia.

De fato, o terceiro ato do filme não só é tenso e eletrizante pela ação, mas absurdamente emocionante pela beleza das cenas, da importância dada às relações que vão se criando no filme e da intertextualidade, já que pelo menos dois personagens do longa dispensam apresentação e já conhecemos muito bem desde o primeiro filme da franquia.

Patrick Stewart está fantástico como Charles Xavier, talvez como nunca esteve antes. Já senil, o telepata sofre de convulsões que surtem um efeito avassalador nas pessoas ao redor, devido ao nível de seu poder e rende uma das cenas de ação mais tensas de todo o filme. Mas o que de fato chama a atenção é a relação entre Xavier e Logan, que passa tanta familiaridade e afinidade que mesmo sabendo que ambas personagens não tem nenhuma relação parental, dá a impressão de que estamos vendo pai e filho agindo com a típica estranheza que só uma família normalmente desajustada pode ter.

O fator intertextual do filme, e tudo propositalmente implícito no roteiro, é explorado com primor. Não há mais necessidade de entender o passado de Wolverine, ou o que ocorreu nas décadas que o separam do filme anterior. Não importam as suas cicatrizes ou os fatos que levaram a ele e aos outros mutantes da velha guarda onde estão. A história em si é envolvente, emocionante e se basta, com o maior tom de saudosismo e reverência que poderia se permitir.

Um deleite para os fãs que depois de quase vinte anos finalmente tiveram o Logan que mereciam consegue o paradoxo de aquecer os corações que acompanharam a trajetória do mutante mais querido do cinema, e ser absolutamente trágico para o mesmo público e também para a audiência geral. Mesmo sem a contextualização de outros filmes, é quase impossível não se emocionar com as cenas de drama envolvendo o trio principal, e na sessão em que assisti o filme, choros eram consolados por todo lado, e lágrimas corriam aos montes dos meus olhos.

Assisti a versão dublada e, sem surpresa alguma, está simplesmente fantástica, com destaque para Isaac Bardavid no papel principal, Reginaldo Primo interpretando Donald Pierce, líder dos Carniceiros (gangue famosa de ciborgues criminosos do universo dos mutantes em meados da década de 90, inédita no cinema) e Leonardo José dando voz a Charles Xavier.

Foi a primeira vez que vimos um Logan irretocável, mas também a última com um rosto tão familiar. A comoção ultrapassa a forma de interpretar do ator, o roteiro, os efeitos visuais e a fidelidade aos quadrinhos. Mais do que isso, é comovente pra um fã e pra um amante das sétima e nona artes, ver como uma personagem tão importante e tão querida foi tratada com tanto esmero e profissionalismo, por uma equipe nesse filme, mas por um único ator por quase duas décadas. A dedicação e respeito com que Jackman tratou o velho mutante canadense é de deixar grato o mais exigente dos fãs.

Não queremos acreditar, mas se de fato for a despedida do ator no papel, não há dúvida de que o fechamento foi com chave de adamantium e Logan será lembrado e honrado como um clássico do gênero. Só temos a agradecer.

Leia mais sobre o Wolverine aqui. Veja o trailer neste link.

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